quarta-feira, 14 de maio de 2014

Recife, maio de 2014.

Cena 1:

(Interfone toca)

- Alô!
- Seu Rodrigo, tem um rapaz aqui querendo falar com o senhor. Disse que o nome dele é Eduardo, pintor que fez serviço pro senhor.
- Eduardo...certo, lembro dele. Faz tempo. Mas o que ele quer?
- Ele quer falar com o senhor. Posso passar pra ele?
- Pode, pode sim.
- Seu Rodrigo, é Eduardo, pintor, lembra de mim? Eu fiz um serviço pro senhor tem um tempinho...
- Lembro sim, Eduardo. O que houve?
- Eu queria dar uma palavrinha com o senhor.
- Ok. Sobe aí.

Cena 2:

(Parado na porta, esperando Eduardo subir, pensando)

- O que será que ele quer? Lembro que ele bebia pra caramba. Já sei, deve estar sem serviço. Se brincar perdeu os clientes por causa da cachaça. É lasca. Deve estar querendo trabalho. Foda. Logo hoje que eu tô em casa de manhã! Melhor que eu nem estivesse. Porra, será que é perigoso falar com ele assim, na porta de casa? Sei lá, mataram um médico ontem...não, não, o cara é gente boa. Sei lá. Eita, chegou o elevador.

Cena 3:

(Eduardo sai do elevador)

- Opa, Seu Rodrigo.
- Opa, Eduardo. Tudo bom?
- Tá não. Mataram meu filho.
- (silêncio) Vixe. Como foi isso?
- Dois bêbados dentro de um ônibus. Ele tava vindo de uma ôia...o senhor lembra que ele trabalhava comigo, né? Então...ele tava no ônibus, aí começou uma confusão no ônibus, foi o que disseram, e os bêbados encheram ele de porrada no ônibus e jogaram ele pela janela, o senhor acredita? Ali, na frente daquele hospital XXXX.
- Porra. E como você tá?
- Tô levando, né. Aperreio danado, prenderam os caras mas já soltaram. Daí eu tô dando uma volta atrás de serviço porque tive uma despesa danada com o enterro. Vim saber se o senhor tinha algum serviço pra mim.
- Rapaz...tenho não. Mas...
- Então o senhor pode me arrumar um dinheiro emprestado?
- Posso. De quanto tu tá precisando?
- Se o senhor me arrumasse uns 100 reais ia ser bom.
- Beleza. Só não tenho agora. Tu pode passar amanhã pra pegar?
- Posso sim. Aí eu deixo meu telefone com o senhor, e se aparecer algum serviço o senhor me avisa.
- Tá certo.

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Nem me pergunte se é verdade. Nem me pergunte se tá certo dar dinheiro assim. Nem me acuse de inocência. Aliás, não precisa falar nada.

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