Cena 1:
(Interfone toca)
- Alô!
- Seu Rodrigo, tem um rapaz aqui querendo falar com o senhor. Disse que o nome dele é Eduardo, pintor que fez serviço pro senhor.
- Eduardo...certo, lembro dele. Faz tempo. Mas o que ele quer?
- Ele quer falar com o senhor. Posso passar pra ele?
- Pode, pode sim.
- Seu Rodrigo, é Eduardo, pintor, lembra de mim? Eu fiz um serviço pro senhor tem um tempinho...
- Lembro sim, Eduardo. O que houve?
- Eu queria dar uma palavrinha com o senhor.
- Ok. Sobe aí.
Cena 2:
(Parado na porta, esperando Eduardo subir, pensando)
- O que será que ele quer? Lembro que ele bebia pra caramba. Já sei, deve estar sem serviço. Se brincar perdeu os clientes por causa da cachaça. É lasca. Deve estar querendo trabalho. Foda. Logo hoje que eu tô em casa de manhã! Melhor que eu nem estivesse. Porra, será que é perigoso falar com ele assim, na porta de casa? Sei lá, mataram um médico ontem...não, não, o cara é gente boa. Sei lá. Eita, chegou o elevador.
Cena 3:
(Eduardo sai do elevador)
- Opa, Seu Rodrigo.
- Opa, Eduardo. Tudo bom?
- Tá não. Mataram meu filho.
- (silêncio) Vixe. Como foi isso?
- Dois bêbados dentro de um ônibus. Ele tava vindo de uma ôia...o senhor lembra que ele trabalhava comigo, né? Então...ele tava no ônibus, aí começou uma confusão no ônibus, foi o que disseram, e os bêbados encheram ele de porrada no ônibus e jogaram ele pela janela, o senhor acredita? Ali, na frente daquele hospital XXXX.
- Porra. E como você tá?
- Tô levando, né. Aperreio danado, prenderam os caras mas já soltaram. Daí eu tô dando uma volta atrás de serviço porque tive uma despesa danada com o enterro. Vim saber se o senhor tinha algum serviço pra mim.
- Rapaz...tenho não. Mas...
- Então o senhor pode me arrumar um dinheiro emprestado?
- Posso. De quanto tu tá precisando?
- Se o senhor me arrumasse uns 100 reais ia ser bom.
- Beleza. Só não tenho agora. Tu pode passar amanhã pra pegar?
- Posso sim. Aí eu deixo meu telefone com o senhor, e se aparecer algum serviço o senhor me avisa.
- Tá certo.
----------------------------------------------------------------
Nem me pergunte se é verdade. Nem me pergunte se tá certo dar dinheiro assim. Nem me acuse de inocência. Aliás, não precisa falar nada.
quarta-feira, 14 de maio de 2014
terça-feira, 6 de maio de 2014
O toque
Cena:
Um casal no consultório. A mulher tem uma dor abdominal há algumas semanas e após contar sua história, deita-se na maca para ser examinada. Palpo o abdome, sinto, escuto. Sem pressa. O marido observa atentamente. Termino o exame e explico o que achei, dando recomendações e solicitando alguns exames. Ela agradece, se despede e sai da sala, dizendo que o marido precisa conversar sozinho.
Assim que ela sai, o marido me olha e diz: "Doutor, antes de contar meu problema eu queria lhe dizer uma coisa. O senhor sabia que só em tocar na barriga da gente e examinar assim, direitinho, o senhor já começa a cuidar da gente antes de saber o que a gente tem?"
=)
Sabia sim. Mas sempre é bom ouvir isso assim, deles, de forma tão espontânea.
Assinar:
Postagens (Atom)