- Doutor, o urologista queria me operar, mas eu não deixei não!
- E como foi isso?
- Ele falou que eu tinha a próstata grande e que ia me operar.
- Mas o que o senhor sentia?
- Eu tinha dificuldade para urinar...às vezes ficava presa, às vezes eu fazia na roupa porque não dava tempo.
- Mas o senhor não falou que tomava um remédio?
- Tomava sim! Ainda tomo!
- E ele queria operar por isso? O medicamento não ajudou o senhor?
- Ajudou sim. Depois de uns dois meses tomando eu não sentia mais nada.
- E por que ele queria operar o senhor?
- Então doutor, era isso que eu perguntava a ele! E ele só fazia dizer: "vai ser por vídeo, é rapidinho, o senhor fique tranquilo...". Só que eu sou macaco velho com esse negócio de operar sem necessidade, e quando ele não respondia o que eu perguntava eu saí logo dali.
- Como assim "macaco velho"?
- Ah, doutor, essa é outra história...eu operei o braço faz muitos anos, aquí, ó (mostrando uma cicatriz de uns 10 cm indo do meio do braço esquerdo até depois do cotovelo). Eu tinha uma dormência nesses três dedos da mão. Aí fui numa médica que fez um exame que botava uns fios no braço, e me mandou pra outro médico no hospital XXX. Lá ele me examinou na frente de um monte de meninos, tudo novinho, mais novinho que o senhor. Ele apertava meu braço e ficava dizendo (fazendo uma cara de esnobe): "Estão vendo? Hanseníase!"
- O senhor tinha hanseníase?
- Eu mesmo não, doutor! Mas enfim, ele falou lá, né? Professor, cheio de alunos ali, eu só pensava: "deve estar certo".
- Mas e a cirurgia?
- Eu tinha três dedos dormentes. Agora tenho dois, e essa cicatriz. Resolveu nada. Mas já acostumei.
- E ele mandou o senhor checar essa história de hanseníase?
- Nada! Eu é que fui, porque já tinha visto umas coisas no posto e sabia que era grave. Aí fui numa especialista em hanseníase que me disseram que tinha numa clínica da prefeitura. Ela ficou braba, viu? Disse que eu não tinha hanseníase coisa nenhuma, e fez até um bilhete bem desaforado pro médico. Eu tentei entregar a ele, mas ficou difícil marcar consulta.
- Ok. Então ficou por isso mesmo.
- É. Já tava operado mesmo, deixei quieto. Mas lembro o nome dele até hoje, viu? É XXXXXXXX.
- Nem me conte. Vamos cuidar do agora. Então o senhor escapou da cirurgia da próstata. Tá conseguindo sobreviver direitinho aos médicos, né?
- (Gargalhadas) É, doutor. É só não se afobar que a gente não se complica.