sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Conversa de ano-novo

Cerca de meia-hora após os fogos da meia-noite, minhas filhas maiores (7 e 5 anos de idade) tiveram um ataque de choro. Elas tinham se assustado um pouco com o barulho dos fogos, mas parecia um choro diferente. Fui pra um canto e coloquei ambas no colo.

- "Ô meninas, por que estão chorando? Hoje é um dia feliz! Vamos comemorar!"

Demorou um pouco tentando puxar conversa até que Júlia resolveu falar:

- "É que a gente não quer que vovó morra! A gente não quer ser adulto!"

Minha mãe morreu há 1 ano e meio. Estamos numa casa de praia, com muitos familiares, incluindo meu pai, irmãos, tios, primo, e meus sogros. Inevitável lembrar dela ao ver todo mundo junto, como ela gostava. Mas a gente nunca imagina como as crianças racionalizam isso...

- "A gente não quer que ninguém morra, pai. Vovó vai morrer?"

Estou muito feliz nesse momento por ter conseguido dar a seguinte resposta:

- Meninas. Todo mundo vai morrer um dia. Eu sei que é ruim, mas a vida é assim. Vocês sabem o que a gente deve fazer em relação a isso?
- O que?
- Qual o oposto de morrer?
- Como assim?
- Qual o oposto de grande?
- Pequeno.
- Qual o oposto de feio?
- Bonito.
- E qual o oposto de morrer?
- Viver.
- Então. A gente tem que viver. Aproveitar cada dia. Brincar, fazer coisas legais. Não perder tempo brigando, fazendo coisas erradas. Aproveitar cada tempo com as pessoas que a gente ama.
- (...)
- Vamos aproveitar a festa?

E eu ganhei dois sorrisinhos. Discretos, desconfiados. Mas estavam lá. Agora é continuar cuidados dessas plantinhas para que dêem belas flores e frutos gostosos mais à frente.

Então o que eu disse pras meninas eu desejo pra vocês. Que gastem mais tempo aproveitando a vida. Feliz 2016.

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